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terça-feira, 30 de julho de 2013

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"Milagres" - Natalia de Oliveira

"Milagres"
 
 
  O plantão estava movimentadíssimo naquela tarde de quarta feira, e realmente, foi no primeiro dia de residência medica na emergência do Hospital São Marcos que o Dr. Thiago Freitas entendeu uma verdade universal: um médico não pode ficar mais do que trinta segundos parado sem que seu nome seja chamado ás pressas para atender algum acidentado. Era cansativo, mas mesmo agora, depois de dez anos exercendo a profissão, achava que não teria a menor graça se não fosse assim. Não nascera para ficar parado, jamais se acostumaria com um consultório, sua vida estava ali, na emergência, onde a cada segundo alguém lutava pela vida.

domingo, 23 de junho de 2013

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Sorteio em Parceria!!

     Olá Leitores, faz tempo que eu não fazia um sorteio.
     Este estou fazendo em parceria com a Danikelly Vianna, do blog Aventuras de Paty . Vamos sortear, além de premios surpresa, o livro escrito por mim, Uma Carona no escuro .
Bora participar?

 
Regras:
1 - Seguir este blog e curtir a fanpage (bem aqui na sidebar)
2 - Seguir o blog da Danikelly , Aventuras de Paty
3 - Se inscrever no canal da Danikelly:
4 - Comentar seu face ou email pra contato!
 
     Valido até dia 23/07/2013
Boa sorte!!

sexta-feira, 19 de abril de 2013

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Baixe agora os meus livros, tá facil!!!


     Olá Leitores do meu coração!!!!!
     Como muita gente está me perguntando como conseguir meus livros, agora ficou mais do que facil!!!
     Os dois, "Sebastian" e "Uma carona no escuro" estão disponiveis agora no Recanto das Letras, para baixar, totalmente facil e free. Baixe agora uma cópia pdf dos livros clicando nas imagens correspondentes ao livro que você quer.

                                    Baixe o livro Baixe o livro

     Depois, comentem o que acharam da ideia e dos livros.
    Beijussss!!!!!!!!!!

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

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"Amor Perfeito" - Natalia de Oliveira

Olá Leitores!
Esse é mais um conto de minha autoria. aproveitem!



“Amor perfeito”

(Natalia de Oliveira)


Eu consigo”, pensou Toddy Downey servindo-se de mais um milho da tigela fumegante, “E sei que com o tempo a morte dela vai ser um mistério até para mim.” - Stephen King (Janela Secreta, Jardim Secreto).

       Nenhuma mulher merece tanta confiança á ponto de deixar um homem cego.” Nathan Heweet havia lido essa frase muito tempo atrás em um livro (ou havia visto em um filme, não sabia ao certo) e nunca esquecera. Na verdade, essa frase pipocava em sua cabeça, ali sentado naquele bar, depois de ter entornado meia garrafa de Whisky. Nunca antes aquela simples frase lhe fez tanto sentido como agora. O motivo pelo qual estava sentado no balcão daquele bar beira-de-estrada ás duas da manhã, secando (pela primeira vez na vida) uma garrafa de whisky era bem simples: estava decidindo se se mataria ou mataria Elizabeth.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

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Trabalho de Capa para o "Uma Carona no Escuro"

     Olá Leitores!
     Super novidade!!!! A Nanda Silveira do Imaginario's Books mais uma vez foi minha fada madrinha, e fez a nova capa do meu livro "Uma carona no Escuro"

 
     Ficou linda, não é? A capa anterior, feita por mim, estava horrivel. Afinal, eu sou escritora, não designer de imagem. Essa capa, está mais de acordo com as histórias do livro, que é um livro de contos de terror.
 
Para mais detalhes sobre o livro, visite a pagina obras minhas aqui no blog e para me dar uma forçinha kkkkkkkkkk  compre nesse link.                                                                     "O QUE ACHA DESSE PROJETO? Li todo o livro para poder criar algo que tivesse a ver. O Gato simboliza o primeiro conto do gato macabro, o homem misterioso simboliza o zumbie (ou vampiro) que ataca Dereck, e a estrada, é a ..."maldita estrada" que o frentista disse para o personagem não parar em hipótese alguma, (coisa que o bobão fez) hahaha."  Nanda Silveira , Imaginario's Books .     
Esse blog, que é muito bom e influente na minha opinião, além de ser o veículo de divulgação dos livros da própria Nanda Silveira, como a triologia O Segredo de Emma Sullivan , também trabalha com ajuda aos novos autores, como trabalho de diagramação, revisão e criação de capa, tudo gratúito.
É um espaço onde me senti mais do que acolhida!
Valeu Nanda!!!!                                      


domingo, 18 de novembro de 2012

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"Ponto Final " , por Natalia de Oliveira

"Ponto Final"
 
    

      Sidney olhava incessantemente para o relógio em seu pulso, eram onze e cinquenta da noite. - Que droga! – esbravejou, tinha perdido o ultimo ônibus. Sidney estava sozinho no ponto de ônibus em frente a lanchonete que ficava perto da casa da sua namorada. Tinha perdido a noção das horas, entretido com os amassos e quando reparou na hora, saiu correndo colocando a camisa e abotoando as calças. É, era isso que dava não ter carro e namorar uma garota que morava longe pra cacete. Poderia dormir na casa dela? Poderia, mas tinha que acordar cedo, bem cedo para ir para o serviço e como não estava prevenido, teria que continuar a linha de raciocínio mais tarde e por hora, estava ferrado. A escuridão daquele lugar era terrível e o silencio era sepulcral. A lanchonete já estava fechada e não passava ninguém na rua. Olhou para a rua, pensou ter ouvido o som de motor, mas tudo o que veio em sua direção foi uma moto que passou muito rápido. Praguejou outra vez, não podia voltar para casa á pé, sua casa era muito longe, tanto que sua casa ficava perto do ponto final, depois que o ônibus desovava o pessoal, ele seguia para a garagem, e isso no fim das contas era um saco.

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

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"Negocios são negocios" por Natalia de Oliveira


Negócios são Negócios
 


     - Põe mais uma dose aqui! – Nathan disse para Russ depois de secar o quinto copo de whisky.

     - Cara, você não acha que já está bom por hoje?- Russ, o barman disse com tom ameno enquanto secava um copo com um pano de prato branquíssimo.

     - Eu to dizendo para encher a porra desse copo. – Nathan disse ríspido.

     Russ olhou com pena para Nathan, seu amigo (freguês) de longa data. O rapaz não tinha mais do que vinte e cinco anos de idade, mas parecia mais, por causa de seu cabelo que exibia já alguns fios brancos, suas olheiras crescentes e sua feição cansada, de quem levou uma surra da vida.

     Nathan não tinha uma vida boa, isso até Russ podia ver e frequentava o Russel’s Bar á um bom tempo, fazendo de lá seu confessionário. Nathan era um bom homem, mas as coisas teimavam em dar errado em sua vida. Fora expulso de casa por seu pai quando era ainda adolescente por ter se metido com amizades erradas. Comeu o pão que o diabo amassou e conheceu Mariene uma das únicas coisas boas que já havia acontecido com ele e se casaram. Um tempinho depois, ele chegou em casa mais cedo e a encontrou com o zelador porto-riquenho do prédio. Ele não disse nada, apenas fechou a porta, saiu do prédio e foi até o Russel’s e entornou sozinho uma garrafa de whisky, quando chegou, ela disse que era culpa dele por ser tão distante e inútil e que queria o divorcio. Como estavam casados á um bom tempo, ela tinha direito á metade de tudo que era dele. Por consequência bebera ainda mais e seu chefe estava prestes á demiti-lo por chegar quase todos os dias bêbado. É, isso que era classe.

     Russ olhou para Nathan e pegou a garrafa de Jack Daniels.

     - Olha, cara, eu vou colocar mais uma pra você mas depois disso você vai para casa. Já passou da hora de fechar, se você não reparou só tem você e eu aqui. Você vai para casa, vai dormir, vai tomar vergonha nessa cara e dar a volta por cima.

     Russ encheu o copo com aquele abençoado liquido dourado com uma expressão muito reprovadora.

     - Assim, você não vai cativar seu clientes.

     Nesse momento eles ouviram o telefone tocando lá longe, no escritório. Russ olhou para trás e olhou para Nathan.

     - Eu vou atender o telefone e quando eu voltar eu vou fechar o bar, está me entendendo?

     - Como você é chato.

     - Cara, quando você fica bêbado, você fica intragável.

     Russ balançou a cabeça, guardou a bebida em baixo do balcão e sumiu por uma porta que ficava atrás do balcão. Nathan ficou sozinho com seu copo de alegria no silencio do bar vazio. Por que as coisas eram assim? Por que tudo dava errado para ele? Imaginava se havia caído da arvore do azar e batera em todos o galhos no caminho. Sua vida era uma droga e essa era a única verdade que conhecia.

     - É uma verdade, mesmo. – uma voz soou atrás dele, grave, fazendo-o se virar.

     Olhou para o bar e viu num canto, havia um homem em uma mesa, na penumbra. Estava muito quieto e ele teria passado totalmente desapercebido se ele não tivesse falado, tanto que Russ achou que só estavam ele e Nathan no bar.

     - O que? – Nathan disse forçando a vista para poder ver melhor o homem.

     Ele ficou em silencio, então ele se levantou e veio caminhando na direção do balcão, onde estava Nathan. O homem era alto e com boa aparência, se vestia muito bem, com um terno que Nathan teve certeza que era mais caro do que todas essas biritas juntas. Era muito bonito e tinha uma expressão serena. Ele se aproximou e se sentou ao lado de Nathan.

     - Dia difícil? – ele disse com sua voz macia. Seus olhos eram faiscantes, mas Nathan não conseguiu identificar a cor.

     - Parece? – Nathan bebeu um gole da bebida.

     - Quem nunca passou por isso, não é?

     - Eu te ofereceria uma bebida, mas. . .

     - O que é isso, faço questão.

     Do nada, apareceu na mão do homem, uma garrafa de vidro estranha, não fazia parte do acervo de Russ e parecia velha e o estranho homem completou o copo de Nathan. Bem, ele estava bêbado, mas ele percebeu que isso foi para lá de estranho.

     - Obrigado. – ele disse ressabiado.

     Nathan sorveu um gole do liquido que lhe desceu queimando mais do que o normal. O homem riu e com o rabo de olho ele viu que os dentes dele eram um tanto pontudos.

     - Mas o que é isso?

     - Uma coisinha da minha terra. – ele sorriu e fez uma pausa – Para beber desse jeito, você deve estar com algum problema.

     - Você sempre chega assim nas pessoas?

     - Só quando elas precisam de mim.

     - E eu preciso?

     - Todo mundo precisa, mais cedo ou mais tarde. – ele disse com um sorriso compreensivo.

     - Qual o seu nome? – Nathan disse ressabiado.

     - Eu tenho vários, mas meu nome, Nathan, não é importante. O importante, - ele tornou a encher o copo de Nathan que só então reparava que não tinha dito qual era seu nome. – é que estamos tendo uma ótima conversa. Agora, me diga o que aflige seu coraçãozinho?

     Nathan achou aquilo estranho, mas a voz daquele homem era tão convidativa, que quando percebeu estava fazendo uma dissertação sobre a sua vida, que pareceu durar horas. Contou tudo sobre sua vida miserável, a esposa infiel, o chefe marosco e como tudo dava errado em sua vida.

     - Mas então, diga-me, o que você quer? – o homem disse.

     - Que as coisas fossem diferentes, ué. – disse em tom irônico. – Que eu acordasse um dia e tudo estivesse diferente, que a vagabunda da minha esposa não me causasse mais problemas, que meu chefe não me perturbasse mais e que eu não tivesse que me preocupar se vou ter um lugar para morar amanha. Daria qualquer coisa por isso.

     - Feito.

     - O que? – nesse momento o copo que estava em sua mão se quebrou em lascas, fazendo um corte em sua mão.

     - Droga!

     - Permita-me.

     O homem tirou um pedaço de pano de linho de dentro do bolso e colocou sobre o corte somente, tirando logo em seguida.

     Ele se levantou e colocou o pedaço de pano de volta no bolso.

     - Mas. . .

     - Agora me vou, foi um prazer fazer negócios com você.

     - Mas que negócios? – ele disse mais interessado em pegar um guardanapo que estava ali no balcão para estancar o sangue que saia de sua mão.

     Quando ele virou-se outra vez, o homem não estava mais lá e não ouvira o som da porta se abrir. Olhou para o bar e uma sensação horrível lhe passou, um frio na espinha, uma sensação horrorosa.

     - Tudo bem? – Nathan ouviu a voz de Russ atrás de si e deu um pulo com o susto.

     - Russ, onde você estava? Você viu aquela cara? Ficamos conversando por horas.

     - Do que esta falando? Só sai por um minuto. E que cara? Não tem ninguém aqui. – disse com um tom intrigado.

     - Mas. . . – ele tentou dizer mas estava tão confuso quanto poderia estar.

     - Você está bêbado, isso sim, vai para casa. Ele disse por fim.

     Sem dizer mais nada, Nathan saiu do bar e voltou para casa com um sensação estranha no estomago, com se algo muito errado tivesse acontecido, só não sabia o que. Ele voltou para casa e dormiu no sofá como fazia desde o dia que pegava a esposa com o zelador. Teve um sonho muito estranho com aquele homem do bar, onde tudo o que via eram os dentes e os olhos faiscantes.

     Acordou na manhã seguinte com uma dor de cabeça muito forte, tanto que não abriu os olhos de começo. Esperou alguns minutos e abriu os olhos relutantemente. Colocou-se sentado e ia esfregar os olhos, mas deteve-se pois viu que sua mão estava vermelha, não vermelha, empapada de sangue. Olhou para a outra mão, também estava cheia de sangue. Levantou-se de um pulo e viu que sua camisa e sua calça de dormir também estavam cheias de sangue. Apalpou-se á procura de algum ferimento e não encontrou nada.

     - Ah, meu Deus!

     Afastou-se e olhou para o chão, havia uma trilha de sangue que levava até o sofá. Com o coração aos pulos foi seguindo a trilha de sangue e percebeu que ela vinha da escada lá de cima.

     - Não, por favor não. – ele tremia enquanto subia a escada.

     Lentamente ele foi seguindo a trilha de sangue e com uma dor no peito viu que a trilha vinha do quarto de Mariene. Ele abriu a porta e olhou lá dentro e caiu de joelhos desesperado. Mariene estava deitada na cama, havia sangue por toda parte, ela fora atacada no meio da noite e a faca ainda estava lá jogada no meio do quarto.

     Ele se aproximou da esposa, ela estava nua na cama, com os braços amarrados na cabeceira, o corpo estava todo perfurado, estava morta, bem morta.

     - Você não pode morrer agora, não pode! – ele pulou na cama e começou a tentar a desatar os nos que prendiam os braços de Mariene, mas não conseguia. Nesse momento ele ouviu o som de sirenes de policia se aproximando. Mas que droga!

     Os policiais que o encontraram disseram que ele estava totalmente descontrolado, banhado em sangue e não dizia coisa com coisa. Fora preso e acusado do assassinato de Mariene, pois a faca tinha suas digitais, ele estava na cena do crime e o pior, ele tinha motivo.

     Ele não se lembrava do que acontecera, estava bêbado demais para se lembrar, mas uma coisa sabia, ele não tinha feito aquilo. Por mais que odiasse Mariene, não teria coragem para mata-la, se o tivesse, teria matado ela no dia em que flagrara a traição, tentara argumentar isso, mas só piorara as coisas.

     Alguns dias depois, um guarda foi á sua cela, alguns dias antes do julgamento. Nathan estava deitado olhando para o teto.

     - Ai, estripador, tem visita pra você.

     Ele se levantou e seguiu o guarda através dos corredores da delegacia até a sala de visitas e quando entrou não tinha ninguém lá dentro.

     - Ei, não tem ninguém aqui. – disse para o guarda que não lhe deu atenção e fechou a porta, trancando-o. Ele caminhou pela sala estranhando tudo isso. Passou pela mesa comprida e voltou até a porta para chamar o guarda quando ouviu algo.

     - E então, as coisas estão diferentes? – ouviu uma voz familiar e virou-se.

     Sentado numa das cadeiras da mesa, estava aquele homem do bar. Ele deu um pulo e se bateu na parede com o susto.

     - O que você tá fazendo aqui? – disse exasperado.

     - Eu vim te ver.

     - Guarda! Me tira daqui! – ele gritou se batendo na porta.

     - Que falta de educação. Eu faço o que me pediu e não recebo nem um obrigado.

     Ele parou e virou-se, ele estava ofegante.

     - Foi você? – disse por entre dentes e por resposta recebeu um sorrisinho.

     - Ela gritou um pouco, muito, - ele riu. – Devia ter visto a sua cara enquanto você esfaqueava ela, quantas vezes? Trinta?

     - Eu não fiz aquilo!

     - Ah, fez sim. Tudo o que eu fiz foi insuflar um pouco de coragem e criatividade nessa sua cabeça.

     - Quem é você?

     - Vai me dizer que você não sabe? – ele disse exibindo um sorriso odioso.

     Nathan caiu de joelhos encolhido no canto tremendo.

     - Isso não é verdade, isso não é verdade.

     O homem levantou-se e veio caminhando em sua direção com passos lentos.

     - Lembra do que você disse aquela noite?  - ele então imitou a voz de Nathan, não era parecida era a voz de Nathan – “Que as coisas fossem diferentes, ué”. – disse em tom irônico. – “Que eu acordasse um dia e tudo estivesse diferente, que a vagabunda da minha esposa não me causasse mais problemas, que meu chefe não me perturbasse mais e que eu não tivesse que me preocupar se vou ter um lugar para morar amanha. Daria qualquer coisa por isso.”

     - Eu não. . .

     - Fizemos um trato, lembra? – do bolso, ele tirou o pedaço de pano de linho o jogou na cara de Nathan que o pegou com nojo e o leu com desespero o conteúdo que estava escrito em uma caligrafia finíssima.

     Era um contrato, realmente, dizendo que em troca dos serviços do Diabo, ele ficaria com sua alma. Isso mesmo, com a alma, um contrato muito bem elaborado alias, com uma mancha de sangue no espaço da assinatura. O mesmo pano de linho com o qual ele limpara sua mão cortada.

     - Você é o Diabo?! – ele exclamou.

     - Que nome antiquado! – ele meneou a cabeça.

     - A minha alma. . . você quer a minha alma?

     - Como você pode ver no contrato, é isso mesmo.

     - Você trapaceou! – Nathan esbravejou.

     - Negócios são negócios. – ele sorriu. – O mundo gira em torno das oportunidades, você vê uma e agarra.

     - Meu Deus!

     - O nome não é exatamente esse.

     - Você matou a minha esposa.

     - Era isso o que você queria.

     - Não era, você distorceu minha palavras.

     - Eu não tenho culpa que você não especificou exatamente o que você queria. Mas veja por esse lado, na atual situação, você não tem mais a vagabunda, nem chefe, e nem vai mais se preocupar se vai ter uma casa amanha.

     - Seu desgraçado!

     - Tenha uma boa, vida. Daqui alguns meses virei buscar o que me pertence, sabe, os advogados serão osso duro no seu julgamento.

     Ele sumiu esvanecendo-se no ar. Nathan começou a gritar como um louco e a se bater na porta. Os guardas chegaram e foram necessários cinco deles para controla-lo. Nathan foi internado na ala psiquiátrica da penitenciaria, esperando o dia do julgamento, no qual seria pedida a pena de morte.




domingo, 16 de setembro de 2012

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"Maldita bonequinha de porcelana", de Natalia de Oliveira


Maldita bonequinha de porcelana
 

     "- Jules! Jules! – a voz de Megan ecoava pelos corredores da imensa casa, seguida de um acesso de tosse, como sempre.

     - Já vou, tia! – Jules respondeu gritando da cozinha no andar de baixo, estava muito atarefada preparando a refeição para sua tia.

     Jules era uma garota jovem de vinte e três anos, no auge da juventude, mas que estava perdendo toda essa fase desde que sua tia ficara doente á cinco anos e parara sua vida para cuidar dela.

     Megan era uma mulher vivida, com seus sessenta e poucos anos, de poucos amigos e muitos problemas, fã do cigarro desde os treze anos, o que lhe causara sua atual situação de insuficiência respiratória, e quando o problema se tornou serio o bastante para ficar presa á um cilindro de oxigênio, teve que chamar ajuda.

     Falemos claramente, Jules só cuidava da tia velha por que não havia outro parente vivo que o fizesse, e por esse motivo sentia-se presa á ela, assim como o cilindro. Seus pais haviam morrido num acidente na mesma época em que Megan ficara seriamente doente, então tudo isso acabara se tornando uma troca de favores, “Você cuida de mim, e eu deixo você morar aqui..”. Era mais ou menos assim.

     - Jules! – a voz estridente da velha ecoou mais uma vez.

     É, no começo pareceu boa ideia, ela teria um lugar pare ficar e ainda teria um dinheirinho por cuidar da tia velha, mas com o tempo foi percebendo que não seria assim tão fácil, na verdade, não fazia a mínima ideia de onde estava se metendo.

     A velha era louca! Quando surtava, ficava pior do que criança: não queria tomar os remédios, ficava chamando Jules por motivo nenhum no meio da noite, a comida estava insossa, o radio alto demais, o luz forte demais, tinha travesseiro de menos, e por ai vai. Era um inferno.

     Isso não era tudo, não, havia ainda sua sinistra e empoeirada coleção de bonecas de porcelana da era vitoriana, que ela não permitia que ninguém tocasse com as mãos sujas, em especial, uma bonequinha que ela insistia em manter no criado mudo, sua preferida. Tinha os cabelos avermelhados e grandes olhos cinza, usava um vestidinho lilás com babados brancos de renda, uma coisa pavorosa. Naquela época, os artesãos faziam as bonecas parecidas com sua donas, meninas ricas que pagava praticamente uma fortuna por uma boneca, e a antiga dona devia ter sido uma criaturinha esquisitinha, Jesus.

     A boneca em si era bem comum, o que chamava a atenção dela era sua expressão. Ao contrario das varias bonecas do recinto que tinham um sorrisinho afetado, a boneca do vestidinho lilás tinha uma expressão seria, não, vazia seria uma palavra melhor, com seus olhinhos olhando para o vazio, seu nariz arrebitado e seus lábios rosados sem expressão alguma. Megan era obcecada por ela.

     - Jules! – Megan chamou outra vez.

     - Já estou indo! – Jules respondeu alto e então falou baixo – Sua velha inútil e impaciente, já vou levar sua sopa, espero que se afogue nela.

     A garota arrumou a sopa na bandeja que usualmente levava ao quarto de Megan todos os dias e quando pegou a bandeja nas mãos um pensamento lhe ocorreu: Odiava Megan, simplesmente isso, odiava Megan, odiava que ela estivesse atravancando sua vida, odiava sua coleção de bonecas, sua voz, seu cheiro, odiava ela.

     Subiu a escada que levava ao segundo andar da casa, o andar dos quartos, carregando a bandeja com o almoço, e conforme aproximava-se do quarto, sentia o cheiro dos remédios invadindo o ambiente, aquele cheiro enjoativo de hospital.

     A porta estava aberta e Jules entrou direto só para se deparar com aquela imagem tão familiar: uma cama de hospital, o cilindro de oxigênio ao lado da cama a mesinha de cabeceira com os vários remédios e claro, a bonequinha de porcelana também estava lá.

     Megan estava sentada na cama, com seu cabelo grisalho arrepiado, suas olheiras profundas em torno dos olhos e sua costumeira palidez.  O tubo de oxigênio preso em seu nariz.

     - Finalmente, mais um pouco e isso não seria mais um almoço, seria um jantar. – disse com sua boca enrugada e banguela.

     Jules ajeitou a bandeja no suporte ao lado da cama e o empurrou em direção á cama de forma que se encaixasse. Enquanto Megan se alimentava, Jules sentou-se na poltrona ao lado da cama, esperando que ela terminasse e também, caso ela se engasgasse estaria ali para socorrê-la.

     Enquanto Jules esperava sua mente vagou. Pensou que Megan era uma pessoa ruim, que tratava mal a única pessoa que ela tinha, isso não era normal. Pensava se ela não tinha medo de terminar seus dias sozinha. Não, claro que não, Jules estaria lá, limpando sua baba até o ultimo momento.

     “. . . até o ultimo momento. . .”, essa frase ecoava em sua mente, e de repente teve consciência de que talvez isso demorasse muito, muito mesmo. Começou a imaginar quanto tempo mais Megan viveria daquele jeito, quem sabe por anos, sugando sua juventude como uma vampira. Haveria alguma diferença? Alguém poderia dizer com certeza qual das duas estava agonizando em um mar de sofrimento?

     - Nunca vi comida mais insossa. – Megan afastou o prato violentamente fazendo um pouco da sopa derramar no lençol que, adivinhe só, Jules teria que lavar.

     Como sempre, Jules se segurou, fechou os olhos e respirou fundo.

     - O medico disse que pelo seu problema de pressão alta, você teria que diminuir o sal.

     - Se eu quisesse comer comida de hospital eu estaria em um e não precisaria de você, sua inútil. – disse mais ríspida.

     Outra vez Jules se segurou, essa era sua vida: ouvir essas barbaridades calada só pelo fato de morar de favor naquela casa. Era cada humilhação que ás vezes sentia vontade de. . .

     Respirou fundo e olhou em seu relógio de pulso, eram uma e meia da tarde, hora dos remédios de Megan. Jules levantou-se da poltrona, retirou a bandeja e o suporte, encostando-os na parede. Foi em direção á gaveta dos remédios mais fortes, pegou-os e levou até a cômoda, do outro lado do quarto para preparar a medicação. Naquele momento, ela tinha que tomar três comprimidos e uma injeção de um remédio que á muito havia desistido de pronunciar o nome. Primeiro deu á Megan os comprimidos que ela tomou com uma careta, mas tomou, então Jules voltou á cômoda para preparar a injeção.

     “Eu odeio essa velha!” Jules gritava dentro de si. Por quanto tempo mais aguentaria isso? Olhou para a seringa lacrada no pacotinho e de repente um pensamento a assaltou. Lembrou-se de certa vez ter assistido um documentário, “Os crimes quase perfeitos”, sobre crimes que teriam passado batido pelas autoridades se apenas um detalhe não tivesse dado errado e lembrou-se de um em particular, um homem que matara a esposa com uma injeção de ar, sim, uma injeção de ar. Na época se perguntou como que uma injeção de ar podia matar, e o especialista do documentário disse que realmente teria sido um crime perfeito, se o assassino não tivesse confessado, pois é limpo, fácil, não deixa rastro químico e no máximo, a necropsia diria que fora um ataque do coração. A arma é facilmente descartada, realmente, um crime perfeito.

     E se Jules fizesse isso? Como o perito disse, era limpo, seu lixo estava cheia de seringas com o mesmo DNA, uma a mais, uma a menos, não faria diferença. Megan era uma velha doente, presa a um cilindro de oxigênio que poderia muito bem morrer de “causas naturais” á qualquer momento.

     Tudo isso Jules pensou numa fração de segundo. Meu Deus, como pôde, era a vida de alguém, alguém miserável, mas era alguém.

     - Vamos logo, com isso. Nossa que garota lerda! Não faz nada direito, nada que presta.

     Decidiu-se. Abriu o pacotinho da seringa e puxou o ar. Sentiu uma espécie de embrulho no estomago, mas agora que tinha começado não iria parar. Se aproximou de Megan, aquela criatura deplorável com o cabelo grisalho arrepiado e sua cara feia de sempre. Megan se virou de lado, de costas para Jules para que ela aplicasse a injeção.

     - Vê se aplica isso direito, você esta aplicando uma injeção, não esta atirando dardos num elefante.

     - Pode deixar, não vai nem sentir.

     Tudo o que Jules pensava naquele momento era que aquela era sua única chance, que se não desse certo agora, nunca mais teria a coragem de fazer. Não era a razão que a motivava, era o impulso.

     Quando teve certeza de que pela posição ela não estava vendo a seringa, Jules aplicou a injeção vazia. Já estava feito, não tinha como voltar atrás e então tudo aconteceu.

     Megan se virou e olhou para Jules com uma expressão aterrorizada, e mesmo que ela não tivesse dito nada, Jules sabia que ela sabia o que tinha acontecido, então ela começou a se debater na cama, como se estivesse tento um ataque epilético, deixando Jules desesperada, isso não estava em seus planos. A garota virou-se de costas, não queria ver aquela cena horrível, tampou os ouvidos com as mãos e esperou um tempo, até que tomou coragem e virou-se para ver o que tinha acontecido.

     A velha estava estendida na cama, os lençóis estavam no chão de tanto que ela se debateu, os olhos abertos esbugalhados olhavam em direção á bonequinha de vestidinho lilás. Jules se aproximou e colocou dois dedos no pescoço da velha para certificar de que ela estava mesmo morta. Estava, finalmente.

 

     Não foi difícil fingir tristeza no funeral de Megan alguns dias depois. Realmente fora o crime perfeito. Ninguém desconfiara da sobrinha dedicada que perdeu anos de sua vida para cuidar da tia. Pela primeira vez em anos, pode dormir sem que fosse chamada a cada quinze minutos. Claro, como única parente viva, Jules herdou a casa e uma boa quantia em dinheiro. Não que estivesse interessada nisso de começo, mas encarou a herança como um bônus.

     A casa era muito antiquada, precisava de um visual novo, e o mais rápido que pode, Jules começou algumas mudanças, ou seja, iria retirar da casa tudo o que lembrava Megan. Primeiro, esvaziou o quarto de Megan, já fazia um mês desde o trágico passamento da tia e ainda não tivera coragem de entrar naquele quarto. Toda vez que passava por ele sentia uma coisa estranha, talvez um rastro de culpa, mas abanava a cabeça e espantava esses pensamentos. Naquele dia, foi até lá munida de algumas caixas de papelão e começou á fazer uma limpa. Lotou algumas com roupas e sapatos, outra com as roupas de cama e uma, essa ela fazia questão de encher, iria colocar a preciosa coleção de bonequinhas de porcelana e sem o menor cuidado, amontoou uma vinte dentro de uma caixa media. Olhou para o lado e deteve-se pois viu a bonequinha de vestidinho lilás, no criado mudo, tal qual havia visto pela ultima vez, mas com uma camada de poeira á mais.

     Aproximou-se da boneca, havia algo estranho com ela, Jules não sabia explicar o que era. Antes, quando a via, era uma boneca feia e sem expressão. Olhou bem e percebeu algo diferente nela, algo bem sutil que não teria percebido se sua maior característica fosse exatamente não ter expressão, mas agora Jules via um suave cerrar de olhos e um sorrisinho, estranhamente muito parecido com a cara de empáfia de Megan.

     Esse pensamento lhe causou um calafrio, pois lembrava-se perfeitamente que Megan morrera olhando para aquela boneca horrorosa.

     - Se me faltava motivo para me livrar de você, - disse ela pegando a boneca na mão – não falta mais.

     Jogara a boneca sem cuidado algum na caixa com as outras bonecas e lacrou com fita adesiva. Não queria aquela coisa ali, pois ela lhe faria lembrar do acontecido e não queria isso. No fim da tarde, Jules carregou as caixas uma por uma para fora, para que o caminhão do lixo levasse e a cada caixa que colocava no gramado sentia-se mais leve. Sentia que agora sim, seria o começo de uma nova etapa em sua vida, livre, sem nenhuma corrente ligando-a ao passado, só conseguia pensar nas possibilidades que se abriam á sua frente. Faria Faculdade? Viajaria? Investiria em um negocio próprio? Talvez fizesse tudo isso, mas cada uma á seu tempo. Envolta em paz, Jules dormiu naquela noite sem que nenhum fiozinho de culpa passasse por sua cabeça.

    

     Jules acordou na manhã seguinte, empolgada com todas as mudanças que aconteceriam daquele dia em diante. Preparou seu café da manhã com a maior calma, saboreava sua torrada sem a menor pressa. Os aromas, os sabores eram todos diferentes agora.

     Depois do dejejum, a garota subiu ao quarto de Megan, ele era bem maior do que o seu, pretendia mudar-se para ele, mas primeiro iria trocar todos os moveis e essas coisas, iria comprar moveis planejados, e iria tirar as medidas do quarto. Abriu a porta e ao olhar em seu interior soltou uma exclamação de susto, pois, colocada sentadinha no criado mudo como se nunca tivesse saído dali, a bonequinha de porcelana do vestido lilás olhava para ela. Sem entender nada, Jules aproximou-se da boneca e a pegou nas mãos novamente.

     - Mas como? Eu joguei você fora! – ela disse sozinha.

     Tinha certeza de ter colocado ela na caixa e de ter lacrado a caixa com fita adesiva. Tinha que se livrar dela. Desceu a escada correndo segurando a boneca, saiu pela porta, atravessou o gramado e a jogou dentro da lata de lixo.

     - Você não vai escapar do lixo.

     Fechou a tampa com um estrondo, virou nos calcanhares e voltou para dentro, tentando ignorar que aquilo era muito esquisito.

     Depois do almoço, tranquilizou-se um pouco, mas sua tranquilidade durou pouco. Quando foi tomar banho ás seis horas, entrou em seu quarto e viu a bonequinha sentadinha em sua cama. Jules soltou um grito quando a viu.

     - Se isso é uma brincadeira é de muito mau gosto! – ela gritou para as paredes em seu quarto. – Se tem alguém aqui, eu vou chamar a policia. – mas ela sabia que não havia ninguém na casa.

     Um tanto descompensada, ela atirou a boneca da janela e saiu pela casa trancando portas e janelas. Mas o que estava acontecendo? Será que alguém descobrira o que ela fizera e agora a estava assustando com aquela boneca horrorosa? Esse pensamento a acompanhou noite adentro na qual não conseguiu dormir.

     Na manhã seguinte, descia a escada para a cozinha, estava ainda no alto da escada quando pisou em algo duro e irregular, sentiu uma dor aguda no tornozelo, desequilibrou-se e rolou a escada, indo parar na sala estatelada no chão. Enquanto se recuperava ali no chão, tentando se levantar viu que seu tornozelo estava machucado, com dois pequenos furos que sangravam, fora isso não se machucara muito. O abalo maior ficou por conta de quando olhou para cima para ver no que tinha tropeçado e soltou um grito de horror. Bem no degrau em que se desequilibrara estava a boneca, com seu vestido lilás e sua carinha de porcelana, mas havia algo horrível, ela sorria, mostrando vários dentes e um filete de sangue escorria por seus lábios rosados. Monstruosa.

     Durante o tempo que se seguiu, Jules tentou livrar-se da boneca diabólica de varias formas, cada uma mais fracassada do que a outra. Tentou quebra-la com um martelo, no outro dia ela estava inteirinha na sua cabeceira; tentou queima-la, igualmente inútil; jogou-a num rio, não; deu a boneca para um Pittbull brincar, deu-a de presente para uma criança da vizinhança, mas todos os dias a boneca estava lá, em algum lugar da casa, esperando para ser encontrada.

     Jules sabia que de alguma forma Megan estava naquela boneca e agora ela atormentaria para o resto da vida."

    

sábado, 1 de setembro de 2012

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"O mistério das pegadas", por Natalia de Oliveira

O mistério das pegadas

 Não que Alice não gostasse de viagens em família para o campo, mas é que havia um limite entre campo e Terra Media, aquele lugar parecia, como os antigos diziam, o fim do mundo conhecido.

     Era uma cidadezinha no interior do Estado, Pilar, zona rural, com sítios e chácaras. O centro da cidade era tão pequeno que você o cruzava em dois minutos (á pé) e as casas ficavam em estradinhas de terra que saiam da estrada principal. O lugar era tão ermo, que o vizinho mais próximo ficava á um quilometro de distancia, ou seja, se você tivesse um piripaque dentro de casa, ninguém saberia á menos que o vizinho precisasse de um pouco de milho da sua plantação.

     No caso de Alice, seu pai Rafael tinha um sitio na zona rural, onde ele plantava vários tipos de plantas e árvores frutíferas, era seu orgulho, e embora morasse na cidade de São Paulo, aos fins de semana sempre pegava o carro e ia para lá, desfrutar da calma do interior. Alice não gostava muito (entenda não gostava nada), de ir para o mato. Em primeiro lugar, seu celular não pegava; em segundo lugar, a internet não pegava; em terceiro lugar, era chato pra caramba. Mas como já fazia muito tempo que não ia, e havia pegado folga prolongada por conta da semana santa, seus pais fizeram a proposta de viajarem durante o feriado. Teria preferido ficar em casa, mas ah, pelo menos colocaria sua leitura em dia. Na quinta feira á tarde Rafael, Helena sua mãe e Alice arrumaram as malas e pegaram a estrada e chegaram ao sitio ás dez da noite, debaixo de uma chuva daquelas.

     Não havia praticamente nada na dispensa do sitio, levando-se em conta que Rafael só comprava coisas mais “sofisticadas” quando Alice e Helena iam ao sitio, logo se depararam com apenas macarrão e sardinha para o jantar. Na sexta feira de manhã, Alice e Helena pegaram o rumo da estrada de terra. Havia uma pequena vendinha á três quilômetros de distancia, na qual os agricultores que não quisessem se abalar até a cidade poderiam abastecer suas provisões.

     As duas andavam á pé pela estrada deserta, uma vez que seu Rafael havia saído com o carro para buscar mudas de limoeiro no sitio de um vizinho. Eram dez da manhã, mas o sol já estava alto e forte, não havia lama na estrada, apenas terra seca.

     - Ah, mas que droga! – Alice disse pela terceira vez segurando seu celular no alto, procurando rede sem sucesso. – Estamos em Lost, só pode. – disse, fazendo alusão á uma famosa serie de tv em que um avião caia em uma ilha que seus sobreviventes se descobrem em uma realidade paralela.

     - Acho que o fim do mundo para você seria a queda da rede mundial. – Helena zombou.

     - Com certeza, se eu ver mais uma vaca, eu tenho uma sincope.

     - Não seja tão dramática. – a mãe sorriu – Sinta o ar puro.

     As duas continuaram o caminho conversando sobre banalidades, apenas deixando que os pés as levassem. O caminho não era difícil, não tinha como se perder: á partir da porteira, se caminhava reto por um quilometro e meio até uma encruzilhada, lá se virava á esquerda e continuava seguindo reto por mais um quilometro e meio até a vendinha. Era uma boa caminhada, mas mãe e filha eram acostumadas á caminhar longas distancias, então acordaram cedo, colocaram um boné na cabeça, uma garrafinha de agua na sacola e pé na estrada (literalmente).

     - Que horas são? – Helena perguntou á filha que estava com o celular em mãos.

     - Dez horas.

     - Será que conseguimos chegar em casa antes do meio dia? O almoço vai sair muito tarde se. . .

     Nesse momento elas chegaram á encruzilhada e teriam virado á esquerda como de costume, se algo não tivesse chamado sua atenção.

     A chuva da noite anterior fora tão forte que criara enxurradas na beira da estrada, conforme a agua escoava, aquela parte virou um lamaçal. As pegadas deixadas em um local como esse, são bem marcadas e como o sol estava forte e secou o chão rapidamente, as marcas ficam como fosseis, endurecidas e preservadas.

     - Nossa, que pegadas enormes esse cachorro deixou! – Alice comentou olhando uma serie de pegadas no chão endurecido.

     Aparentemente, um cão enorme havia passado por ali, deixando pegadas do diâmetro de uma mão humana. Helena parou para olhar e ficou meio que pasma. Voltou alguns passos para observar com um olhar que pareceu estranho para Alice. Ela parou com um olhar interessado e disse ainda olhando para o céu.

     - Isso não é coisa de cachorro. – ela disse e sorriu. – Vem ver isso.

     Sem entender nada, Alice se aproximou da mãe e procurou no chão o que ela via tão interessada. Não havia reparado quando passara por ali de começo, mas agora via que havia muitas pegadas, que aparentemente vinham de lá de trás, sempre pelo lado esquerdo da estrada. O barro agira como cimento se solidificando e isso foi o que viram:

     Pegadas humanas descalças vinham lá de trás até a encruzilhada, chegando lá, quem quer que tenha formado aquelas pegadas começara á andar em círculos, desesperado, e era aqui que a coisa ficava estranha: as pegadas voltavam á se concentrar no lado esquerdo da estrada, e era uma pegada muito estranha. Quando viu de relance, pensou que fosse uma pegada humana, mas quando observou mais atentamente, percebeu que era bem diferente, era maior, bem maior, a parte que deveria ser o calcanhar, redondo como deveria ser, era triangular, comprida e reta, sem a curvatura da planta do pé, e os dedos eram compridos como dedos da mão e haviam buracos profundos, cinco deles, um na frente de cada dedo, indicando a presença de garras. A pegada era funda, como se o que a tivesse marcado tivesse uns duzentos quilos, bem no centro da encruzilhada. Então, as pegadas se tornavam as de um cachorro enorme e seguiam em frente.

     - Que coisa estranha. – Alice disse espantada.

     - Você não entendeu, não é? – Helena disse olhando bem nos olhos da filha – Um Lobisomem passou por aqui.

     Alice olhou bem para o rosto da mãe e então começou a rir.

     - Criativa a senhora. – a garota disse virando as costas e se afastando.

     - Eu estou falando serio, essas coisas existem! – ela disse apertando o passo para alcançar a filha – Observe, - Helena a puxou pelo braço de volta onde as pegadas humanas estavam. – nesse ponto ele ainda era humano, então a transformação começou, – apontava aonde as pegadas formavam o circulo – e aqui, é ele transformado. – apontou onde as pegadas eram as de cachorro.

     - Que besteira! - ela riu da mãe – Um cara descalço deve ter passado por aqui e depois um cachorro estupidamente grande passou por cima das pegadas dele.

     - Então por que as pegadas humanas de repente somem e só ficam as de cachorro?

     - Sei lá, você tá dando muita importância para uma coisa tão pequena. – ela virou de costas e começou a andar.

     - Se você tivesse ouvido as historias que meu avo contava, você também daria importância. – disse já a alcançando e seguindo de braços dados como eram acostumadas.

     - Mãe, fala serio, isso não faz sentido.

     - Como não? Quer que eu liste as evidencias? Em primeiro lugar, estamos na quaresma, além de ser um período de jejum e penitencia é um período em que os antigos acreditavam que coisas ruins andavam soltas para atrapalhar as orações; em segundo, hoje é sexta, sexta em uma quaresma; em terceiro, é lua cheia; em quarto, as pegadas estavam em uma encruzilhada. . .

     - Tá bom, tá bom. – ela interrompeu, ela não queria discutir, pois sabia que a mãe teceria um monólogo sobre as historias de seus antepassados dos confins de Minas Gerais.

     Porem, instintivamente, foi acompanhando a trilha feita pelo Lobisomem ao longo da estrada. Num certo ponto, a pegada desviava do lado esquerdo, atravessando para o lado direito e sumia num pasto cheio de vacas.

     - Aposto que haviam mais vacas ai ontem. – Helena disse com um sorrisinho, querendo dizer que a criatura teria dado cabo de alguma vaca no meio da noite para matar sua fome.

     Continuaram seu caminho e abruptamente as pegadas apareciam de novo, seguindo dessa vez pelo lado direito da estrada. Faltando uns oitenta metros para chegar á venda que já estava visível com suas inconfundíveis paredes roxas, passaram por uma casa pequena, estava abandonada á muito tempo, pois o teto havia caído e as portas e janelas pendiam quebradas em seus batentes. Essa casa, tão simples, teria passado desapercebida se não fosse o fato das pegadas desaparecerem de novo para dentro do mato, bem na frente da casa.

     - Ele deve estar dormindo ai, depois de se fartar com a pobre vaca.

     - Para com isso mãe! – Alice a repreendeu.

     - Meu avo dizia que eles gostam de dormir em casas abandonadas, onde ninguém vem encher o saco dele até de noite, quando ele acorda para caçar. – disse com um tom forçadamente sombrio.

     Helena gostava de provocar Alice, assustando-a com essas historias do Além Minas, e ria. Sinceramente, nesse aspecto, Alice achava sua mãe muito infantil, querendo assustá-la como se as duas fossem ainda estudantes de quinta serie.

     - Beleza, então vamos entrar ai e ver. – Alice disse parando em frente a casa com um ar desafiador. – Vamos ver se tem um Lobisomem mesmo. Estou com meu celular, se ele estiver ai, eu tiro uma foto, vendemos e ficamos ricas. – disse fazendo pouco.

     - Seria uma atitude pouco inteligente. – Helena se aproximou da filha e a pegou pelo braço gentilmente, puxando-a pela estrada, para longe da casa abandonada. – Se um Lobisomem é descoberto por alguém, ele mata a pessoa que descobriu, para guardar o segredo. E não queremos isso.

     - Você realmente acredita no que está dizendo? – Alice já estava achando aquilo tudo ridículo.

     - Já te disse, se tivesse ouvido as historias do meu avô, também acreditaria.

     Finalmente chegaram á vendinha num lugar tão ermo que, fora a vendinha, o único lugar habitado ali era uma pequena igreja que ficava do outro lado da rua, bem em frente. Compraram tudo o que tinham que comprar e voltaram pelo mesmo caminho, conversando sobre temas mais amenos e chupando um sorvetinho, tentando deixar essas ideias sobre lobisomens e coisas do além para trás. No entanto, toda a convicção que Helena demonstrara deixara Alice intrigada e mesmo que não quisesse, não conseguiu evitar de acompanhar as pegadas com os olhos durante a volta para o sitio.

     Chegaram em casa exatamente ao meio dia e o resto do dia se seguiu normal: Helena ocupada com os afazeres domésticos e Alice em seu quarto, lendo “A hora do Vampiro” de Stephen King. Sim, era um livro de vampiros, nada haver com lobisomens, mas mesmo assim, de tempos em tempos, olhava através da janela de seu quarto, para o matagal.

     Lá pelas seis horas da tarde, os cachorros da propriedade, dois vira-latas de nome Saddam e Mina, começaram á latir. Era Rafael que chegava com cinco peixes que havia passado a tarde inteira para pescar no lago lá embaixo, depois do pomar, estava desapontado por não ter pegado mais peixes.

     Durante o jantar, o assunto doas pegadas surgiu do nada, e não criou outra reação em Rafael senão um ataque de riso.

     - Mas que besteira! – disse por fim, depois de se recuperar das gargalhadas.

     - É, besteira. – Alice comentou cética como o pai, porem com um certo balanço na voz.

     O assunto terminou por ali. Alice ajudou a mãe com a louça e depois foi levar comida para os cães. Nossa, como a noite caía rápido no interior. Colocou a comida nos pratos do Saddam e da Mina, colocou a panela encima da casinha deles e tirou do bolso da calça um maço de cigarros. Fumava fazia alguns meses, escondida da mãe, claro, mas também era bem de vez em quando. Tirou o cigarro e o isqueiro do maço e ascendeu o cigarro, soltado longamente a fumaça. Olhou para o céu escuro, cheio de estrelas, como não dava para ver na cidade. Olhava para as estrelas e sua atenção foi atraída para a lua que realmente estava cheia, redonda e branca. Um calafrio a acometeu. Olhou para os lados e a fraca luz da varanda não iluminava muito além da varanda em si, deixando as arvores á frente sombrias, tortas e enegrecidas. Ouviu o som além delas, o som do farfalhar das folhas caídas, como se algo se movesse ali. Olhou para trás, Saddam e mina estavam mais interessados em seu jantar do que em folhas farfalhando.

     - Que droga! – jogou o cigarro fora e abanou a fumaça.

     Aquele papo de cosas rondando na escuridão deixara Alice impressionada. Pegou a panela em cima da casinha, entrou em casa e trancou a porta, era cedo ainda, mas ninguém mais iria sair (ou entrar).

     Ficou um tempo sozinha em seu quarto, lendo o livro que estava muito interessante e quando deu por si, já eram dez e meia, hora de seu seriado preferido, CSI – investigação criminal, o qual não perdia um capitulo sequer. Foi até a sala onde ficava a única tv da casa e sentou-se ao lado de sua mãe que também apreciava o programa.

     - Eu já ia te chamar. – Helena disse oferecendo á Alice uma bacia com pipoca.

     Mesmo que tentasse, Helena parecia ser a única á prestar atenção aos investigadores que procuravam um assassino que atuava nos cassinos de Las Vegas, á todo momento, Alice olhava por cima do ombro, em direção á janela. Fala serio, sua mãe tinha conseguido deixa-la paranoica. Quando terminou o CSI, começou outro seriado, que sua mãe assistia, mas que Alice não gostava muito, mas como Helena havia pedido para que ela ficasse, só para não assistir tv sozinha, ela ficou, ainda intrigada com a janela. Havia um relógio de parede na sala que dizia que eram onze horas e cinquenta e cinco minutos da noite. Mais tarde, ela descobriria que o relógio estava cinco minutos atrasado.

     - Pra mim já chega! Vou dormir. – Alice disse de repente.

     - Não vai ver o final do Monk?

     - Se segundo Stephen king sete horas é a Hora do Vampiro, meia noite deve ser a Hora do Lobisomem e eu não quero estar aqui para ver.

     Nesse exato momento em que Alice proferiu essas palavras, acreditem ou não, um uivo fez-se ouvir alto, agudo e horripilante. Nunca tinham ouvida nada parecido com isso, e olha que tiveram cachorros a vido toda. Tinham uma vizinha que tinha um Husky Siberiano, e aquele bicho uivava, mas aquilo que escuraram era dez, vinte vezes mais alto e agudo, não se comparava. Então Saddam e Mina começaram á latir enraivecidos, como se quisessem pegar algo, pegar e matar. Mãe e filha se olharam assustadas.

     - Eu te disse. – Helena disse baixo.

     - Mãe. . . – Alice começava á ficar apavorada.

     - Calma, todos nessa casa são batizados, e nenhum de nós está sangrando. Ou está?

     - Claro que não. – disse estranhando a pergunta.

     - Então, não tem com oque se preocupar. – ela disse controlando a voz para parecer calma.

     Outro uivo mais medonho do que o primeiro cortou a noite e os cachorros latiam com fúria do lado de fora e Alice dava graças á Deus por eles estarem ali protegendo a casa. Por Deus, algo queria entrar!

     - É melhor irmos dormir. – Helena disse tentando parecer lógica.

     - E´ ruim que eu vou conseguir dormir com seja lá o que for tentando entrar! – protestou.

     - Os cachorros não vão deixar entrar, mas se você se sente mais segura, vou colocar alho nas janelas e portas. Tá bom pra você? – disse tentando convencê-la.

     - Alho é para vampiros, mãe.- Alice disse confusa

     - É para proteção contra espíritos malignos em geral. – justificou – Até lobisomem.

     Helena foi até a cozinha e pegou no suporte de temperos o pote de alho e uma a uma ela foi colocando alguns dentes de alho nas janelas e nas portas. O latido dos cachorros lá fora continuava e elas não entendiam como Rafael não acordava.

     O quarto de Alice foi o ultimo á ser lacrado com alho.

     - Agora durma, vai ver, isso tudo não passa de imaginação fértil e vamos rir muito disso amanhã. – disse com voz calma.

     As duas abraçaram-se e helena deixou a filha sozinha. Alice trocou de roupa, colocou o pijama, apagou a luz e deitou-se. Naquela escuridão tudo parecia mais sinistro, a luz da lua entrava pela fresta da janela, projetando um jogo fantasmagórico de luz e sombra á frente da cama. É incrível como só reparamos nesse tipo de coisa nas horas mais improprias.

     Alice tentava dormir, mas não conseguia, assim como aquelas pessoas que não conseguem dormir se algo esta fora do lugar, ou não fica sossegado até verificar pela quinta vez que as trancas estão trancadas. E o barulho daqueles cachorros? Sentiu vontade de sair e brigar com eles, mas não era louca de por o pé para fora até que estivesse dia claro.

     Havia um rosário do criado mudo ao lado da cama, Alice o pegou e quando percebeu, estava rezando. Não se lembrava de ter sentido tanto medo em sua vida. Tudo bem, não era exatamente medo, era mais uma espécie de desconforto com uma situação, e o sentia forte, como nunca. Talvez se sentia uma tola pela manhã, mas por hora não soltaria o terço.

     Realmente não o soltou. Não lembrava-se de quando havia pego no sono, só sabia que os cães ainda latiam quando dormiu e quando acordou, ainda segurava o terço na mão. Ainda estava meio sonolenta, esfregava os olhos com a costa da mão quando ouviu batidas na porta.

     - Alice, acorda! Você tem que ver isso! – a voz de Helena soou do outro lado da porta, agitada.

     Num pulo, Alice levantou-se e abriu a porta do quarto, sua mãe esperava em frente, também com roupa de dormir.

     - O que aconteceu?

     - Essa você tem que ver!

     Helena a pegou pelo braço e foi puxando pelo corredor da casa, passaram pela cozinha e saíram da casa. Caminharam rápido pela entrada de carros e seguiram pelo caminhozinho que levava á porteira, onde Rafael e mais dois vizinhos que Alice nunca lembrava o nome estavam, olhavam alternadamente para o chão, para a porteira e cochichavam coisas.

     Quando mãe e filha chegaram perto o suficiente, os homens deram passagem e Alice quase caiu para trás: ali, na porteira, haviam as mesmas pegadas da encruzilhada, além de arranhões na terra e na madeira da porteira, mas não eram simples arranhões, eram talhos na madeira, feitas por garras afiadíssimas ou por um formão.

     As duas entreolharam-se espantadas e no meio de tantas ponderações que os vizinhos faziam, elas sabiam a verdade.

     Com o tempo, Rafael e os vizinhos convenceram-se de que quem tinha feito aquelas marcar teria sido o Mastife do vizinho japonês, Kioshi, que tentara entrar no sitio para comer as galinhas, mas nada tiraria da cabeça de Alice que se tratava de algo muito, muito pior. Ela nunca mais voltou para o sitio depois dessa, pelo menos, não durante a quaresma.