segunda-feira, 23 de setembro de 2013

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"Boa Noite, Sam" Capitulo 1

    Olá Leitores!!!
    Como o prometido, terminei o primeiro capitulo do livro Boa noite, Sam e o estou postando aqui. De novo, está fresquinho, acabei de fazer. Quem quizer ler o prefácio primeiro para não se perder, clique AQUI


Boa Noite, Sam
Capitulo 1
      " O cheiro do café sendo preparado era maravilhoso e enchia o apartamento. Esse era um dos prazeres de Maggie Brown, acordar e passar um café como uma vizinha brasileira havia ensinado á ela quando ela ainda era criança. Os americanos preparavam um café tão cheio de frescuras: com leite, com creme, descafeínado, e uma gama de outros tipos de café que a deixavam louca toda vez que ela entrava numa cafeteria. Por isso ela preferia a simplicidade do seu café preto, puro e com açúcar e o cheiro que ficava em sua cozinha quando o preparava, esquentando a agua no fogão e despejando o liquido quente no filtro de café. A cafeteira era impessoal e robótica na sua opinião, tirando todo o encanto do ritual do preparo e quando acontecia de ela tomar café feito por um amigo da forma americanizada, ela o achava insosso e fraco.

       Uma rápida olhada para o relógio de parede em sua cozinha lhe disse que eram quatro horas da tarde, e como só entrava no trabalho ás seis, ainda tinha um tempinho antes de começar a se arrumar, afinal, uma regata cinza e uma boxer feminina preta (seu traje de dormir) não eram roupas com as quais aparecer em publico. Não que ela se arrumasse muito, passar lápis e rímel nos olhos era a coisa mais incômoda que ela podia pensar em fazer. Nesse ponto Maggie realmente não entendia as mulheres. Não entendia por que ficar parecida com o Coringa seria sinônimo de beleza. Mas tudo bem, como trabalhava com o publico, sendo bartender em um bar no centro, fazia esse esforço.

       Maggie era uma mulher bonita, claro. Aos vinte e seis anos, parecia ser tão jovem quanto possível e mais de uma vez teve que mostrar sua identidade para um policial á paisana que de tempos em tempos davam uma incerta no bar. Seu cabelo tinha mechas loiras com um fundo mel que lhe caia pelos ombros em cachos soltos, seus olhos eram verdes e grandes, seu nariz era pequeno e arrebitado e seus traços eram delicados. Tinha altura mediana e era esguia. Não era um físico de modelo de passarela, mas estava bom.

       Com a maior calma do mundo, Maggie puxou uma cadeira e sentou-se á sua mesa, na pequena cozinha de seu pequeno apartamento, para saborear seu café da tarde, composto de torradas quentinhas e uma xícara de seu precioso café. A cozinha era simples, mas equipada com tudo o que era necessário.  Havia um balcão que separava a cozinha da sala de estar, com dois bancos junto á ele, o que a fazia se sentir ainda em seu trabalho quando recebia visitas. A sala de estar tinha um sofá grande, uma poltrona e um raque com a tv e o aparelho de DVD, todo esse conjunto fora comprado com muito esforço e embora não fossem dos melhores, era seu.

       No entanto sua casa não era lá muito enfeitada. Tinha um ou outro artigo de decoração, coisas que as suas vizinhas traziam de vez em quando e não tinha coragem de recusar, uma vez que eram presentes dados com tanto gosto. O resto da casa seguia do mesmo jeito: simples, limpo, organizado na medida do possível.

       Tomava um gole de seu café quando ouviu a campainha da porta tocar. Ela empertigou-se na cadeira e levantou-se devagar. Com uma sombrancelha levantada ela caminhou até a porta e a abriu.

       - Olá Maggie.

       Wayne, seu namorado, estava parado ali com seu cabelo negro com corte levemente moicano e olhos castanhos, com seu queixo marcante e os traços hispânicos que tanto lhe chamaram a atenção quando o conhecera no bar. Ele estava olhando para ela, sério. Ela simplesmente não podia acreditar que ele estivesse ali parado na frente dela. Ela soltou uma rizada sarcástica, cruzou os braços na frente do corpo e encostou-se no, batente.

       - Olá Wayne. – ela respondeu ainda com o sorriso.

       Wayne era seu namorado (ou pelo menos ela achava que ainda era) já fazia dois anos. O relacionamento tinha seus altos e baixos? Tinha, mas ambos sempre foram capazes de lhe dar com as intempéries de um relacionamento, assim como todo mundo.

       Depois de dois anos de namoro e nenhuma inclinação de Wayne em assumir um compromisso mais sério, Maggie compreendera que não deveria esperar dele mais do já tinha: visitas alternadas na casa um do outro, alguns finais de semana, passeios mais incrementados quando suas agendas permitiam, mas era só isso.

       Para ela estava muito bem assim, desde que fosse divertido para ambos e houvesse respeito, ela poderia passar anos nesse chove e não molha. Mas nos últimos tempos Wayne havia se tornado muito apegado, carente, grudento, irritante e desnecessariamente ciumento.

       Então aconteceu.

       Wayne sumiu. Sem ligações, sem sinal de vida, sem aviso prévio. Simplesmente esvaneceu-se no ar. E sumido ficou por duas semanas. No primeiro dia, Maggie achou que ele estivesse cansado e que por isso não ligara para ela como fazia religiosamente todos os dias e não se importou muito. No segundo dia sem sinal de vida nem de fumaça, ela começou a ficar preocupada. Tentou ligar, mas ele não a atendera. No terceiro dia, ela fora até o apartamento dele, só para dar com a cara na porta, e ai teria ficado realmente preocupada se uma vizinha de porta não tivesse dito que ele havia saído não fazia vinte minutos. Ela decidiu então que não correria atrás se era ele quem estava dando um perdido nela, ela não estava com paciência para isso. Ela o esperou voltar com uma explicação, e agora depois de duas semanas de silêncio, ele estava ali em sua porta e ela só podia avaliar o quão patético ele era.

       - Como você está? – ele perguntou forçando um sorriso.

       - Eu estou ótima. – ela respondeu com o sorriso mais afetado que encontrou, sem fazer menção de se mexer de onde estava.

       - Precisamos conversar. – ele disse assumindo uma expressão séria.

       - Eu estou atrasada para me arrumar para o trabalho. – ela realmente não queria ter que lhe dar com isso naquele momento.

       - Mentira. – ele sorriu. – Eu sei que você só está enrolando até que seja a hora, eu conheço seus horários, lembra? – era verdade. – Posso entrar? O corredor não é lugar para isso, e você não está exatamente decente. – ele apontou para a cueca boxer feminina que ela usava.

       - Bem, depois de duas semanas, você tem mesmo algo a explicar.

       Maggie bufou e se afastou do batente dando passagem para Wayne. “E eu que achava que esse dia ia ser tão bom...” ela pensou ao fechar a porta atrás de si caminhou até a sala de estar e sentou-se displicentemente no sofá, como sempre fazia. Wayne percebeu que ela tinha aquela cara, aquela que ela fazia quando algo a incomodava, uma que ela normalmente fazia para os bêbados no bar. Ele sentou-se na mesinha de centro de frente para ela.

       - Bem, não tem jeito suave de dizer isso, então lá vai: - ele respirou fundo – acho melhor nós terminarmos esse namoro.

       Ele ficou em silêncio, estudando as feições de Maggie. Ela estava quieta e calada, apenas balançava a cabeça com uma sombrancelha levantada e os lábios levemente curvados para baixo.

       - Posso pelo menos saber o porquê? – ela perguntou seca.

       - É complicado... – ele começou e parecia muito incomodado com a situação. – Tem muita coisa envolvida... o problema não é você, sou eu... isso não muda o fato que eu gosto muito de você...

       - Shhh... – ela disse levantando uma mão, indicando que ela queria que ele parasse de falar. – Seu raciocínio está fazendo minha cabeça doer. – ela esfregou os dedos indicadores nas têmporas por um minuto e então olhou bem para ele. – Tudo bem.

       - O que? – ele disse surpreso.

       - Estamos terminando, tudo bem. – ela se levantou e fez menção de voltar para seu café na mesa da cozinha.

       - Não era bem essa a reação que eu estava esperando... – ele ponderou levantando-se da mesinha de centro e havia uma pitada de desapontamento ali. Quando ele notou, ela já estava de volta á sua mesa, sentada na cadeira com a xicara de café mais ou menos quente na mão.

       - E que reação você esperava que eu tivesse? – ela retorquiu sarcástica.

       - Você não ficou triste. – ele parecia realmente chateado.

       Ela riu sarcasticamente.

       - Não. Não fiquei. O que você esperava? Que eu cantasse “Please Don’t Go!” para você?

       - Não, mas...

       Ela levantou-se abruptamente e Wayne instintivamente deu um passo para trás quando ela se aproximou dele. Ele sabia que Maggie era do tipo que quando perde a paciência, quebra tudo á sua frente.

       - Mas? Mas? Não existe um mas, mano. – ela virou-se de costas para ele como que para voltar para a mesa, mas virou-se de novo para olhar nos olhos dele. – Você some por duas semanas, ai você entra na minha casa com essa cara, na minha casa, e termina comigo sem motivo aparente. O que, em nome de Jesus, eu deveria fazer?! – ela não estava gritando, mas estava irada. Ela parou e respirou fundo – Então... tchau, Wayne.

       - Maggie, eu só... – ele tentou, mas foi interrompido por ela.

       - Tchau, Wayne. – ela repetiu ríspida. – Se você ainda está ai por falta de uma porta, tem uma bem atrás de você. Não deixe que ela bata na sua bunda quando você sair.

       Com isso, ela voltou para a cozinha e sentou-se a mesa. Wayne ficou olhando para ela por mais um momento antes de realmente se afastar sem dizer mais nada. Ela ouviu a porta do apartamento abrir e fechar e só então pegou seu café outra vez. Estava frio.

 

       Maggie lembrava-se da reação de Wayne ao terminar o namoro. Ela realmente não estava triste, não havia motivo para ficar. Ela estava preparada para isso, e para dizer a verdade, se ele não tivesse terminado com ela, ela o teria feito, mais cedo ou mais tarde. Era uma questão de tempo até ela se cansar realmente de Wayne. Ela jamais havia ficado triste com o fim de um namoro. Na verdade ela já começava seus namoros preparada psicologicamente para o desastroso fim. Não que fosse pessimista, mas seus namorados sempre queriam uma coisa que ela nunca podia dar. Amor. Ela estava feliz do jeito que estava, ficando ali e acolá sem rédeas. Por que eles sempre tinham que estragar tudo querendo algo mais sério? Até onde ela sabia, não era isso que os homens queriam, ou melhor, não queriam? Rédeas.

       Maggie aprendera algumas coisas bem cedo em sua vida: ela não podia contar com ninguém além de si mesma, o mundo é um lugar tão feio e corrupto quanto as pessoas que vivem nele e não tinha ilusão nenhuma de se apaixonar algum dia. Tudo tinha uma razão.

       Ela nasceu e cresceu naquele bairro, que era considerado um dos bairros mais negligenciados pelas autoridades da cidade de Saint Isolde, perto de Nova York. Ali, moravam pessoas pobres e simples, de boa índole que só queriam sobreviver de forma digna, porém ali também viviam pessoas que haviam escolhido o jeito 50 cent de ser (fique rico ou morra tentando), e infelizmente, eles eram a maioria.

       Ela sempre fora meio moleque. Nunca fora o tipo de menina que brincava de boneca, que usava vestido, que chorava por qualquer coisa. Não, ela era durona, desde cedo entrando em brigas contra meninos maiores do que ela, brincando de bola, chegando em casa com joelhos e cotovelos ralados. Coisa que no final das contas lhe conferiu boas relações de amizade com praticamente todos os garotos da vizinhança, alguns garotos esses que cresceram e entraram para o movimento do crime e sendo assim, Maggie era intocável. Ninguém a assaltaria, ninguém passaria a mão onde não devesse e ninguém a desrespeitaria. Não que ela nunca tivesse perdido uns cinco minutos com um ou outro delinquente, mas sempre ficava muito claro quem era que mandava. Sua fama de durona filtrava bem os elementos com quem ela saia, quanto a isso ela não tinha problemas. Se a pessoa não andasse na linha por natureza, andaria na linha por medo dela.

       Seus pais haviam se mudado para lá assim que se casaram. Era barato e era o suficiente para viverem em paz, mas então seu pai, Damon, se envolvera com os criminosos locais e acabara preso. Maggie tinha dez anos, e nunca mais ouvira falar dele. Sua mãe, Rose, trabalhou duro para que nada faltasse á pequena Maggie, e num belo dia, ela foi atropelada voltando do trabalho. Sua primeira tatuagem foi em homenagem á sua mãe, uma rosa vermelha grande no ombro esquerdo. Maggie já tinha dezoito anos, não era mais criança, então teve que se virar. Saira do apartamento que dividira com sua mãe e alugara este, alguns prédios á frente.

       Seu primeiro e ainda mantido emprego fora no bar Vince’s. Era bartender-faxineira-psicologa-segurança. Era um bom trabalho que ela executava muito bem. Claro que de vez em quando havia um cliente ou outro querendo se meter á besta com ela, mas ela havia se tornado mestre em acabar com a felicidade alheia.

       Sua vida era assim. Ela gostava do jeito que era, ela conseguia maneja-la bem pois era previsível: uma casa mais ou menos, um emprego que não era um saco, poucos amigos, alguns namoradinhos esporádicos, tudo certo. Não imaginava que grandes mudanças aconteceriam em sua vida.

     

       Ela estava se arrumando (ah, batom, que horror!) para ir trabalhar. Eram cinco horas da tarde e se arrumava sem pressa, afinal, o Vince’s não era muito longe. Seu quarto não era diferente do resto da casa. Não era muito enfeitado, mas era bonito aos olhos e bem organizado. Havia uma cama bem do centro, seu closet ao lado, uma penteadeira antiga, uma poltrona e uma estante com alguns livros clássicos (nada dessas modinhas teens, não suportava bem a ideia de macular seus preciosos clássicos com aquelas heresias literárias.). Estava terminando a maquiagem quando algo chamou sua atenção até a janela.

       A janela de seu quarto tinha aquela escada de incêndio. Ela considerava uma sacada, colocara até alguns vasos de flores ali e quando estava muito quente, ela colocava algumas almofadas ali e se deleitava com um de seus livros. Seu prédio ficava bem próximo ao prédio ao lado, digo, próximo mesmo. Se ela quisesse e ignorasse os quatro andares de altura, ela poderia pular da sua sacada para a sacada do vizinho sem muito esforço. Além do fato de tal proximidade lhe permitir ver dentro do apartamento do prédio vizinho e vice e versa. Isso já fora uma situação incômoda antes, mas o apartamento estava vazio fazia um tempo.

       Não mais.

       Ela ouvia um som vindo do apartamento da frente e apurou os ouvidos. Era musica. Ela se aprumou e deixando a maquiagem de lado, aproximou-se da janela. Ela reconhecia as vozes de Paul, John, George e Ringo, a musica dos Beatles chegava até ela como se ela própria estivesse no outro apartamento com os meninos de Liverpool no seu auge, bem no comecinho. Ela não tinha certeza se estava correta, mas acreditava que o nome da musica era Twist and Shout.

       Maggie olhou para o apartamento do prédio vizinho. As luzes estavam acesas, e havia um certo movimento lá dentro, mas ela não conseguia ver quem estava lá dentro. Quando o apartamento fora ocupado? Não sabia dizer. Parecia que até ontem ele estava vazio. Ela ficou ali ainda um tempo, debatendo consigo mesma se deveria continuar ali para ver quem era o novo dono (ou donos) do apartamento. Já ia se afastar mesmo quando viu um rapaz.

       O rapaz estava carregando uma caixa para dentro do cômodo com a janela que ficava de frente para Maggie. O rapaz era bem jovem, tinha cabelos escuros em cachos que lhe cobriam a testa, sua pele era branquíssima, como se nunca tivesse visto o sol. Ele colocou a caixa no chão com certa dificuldade e aprumou-se, ficando de frente para a janela. Ele então levantou a cabeça e seus olhares se encontraram. Os olhos dele eram azuis, mesmo com a considerável distância Maggie podia dizer que seus olhos eram azuis de um tom bem profundo. Ele olhava para ela serio, melhor dizendo, assustado. “Droga!” ela pensou.

       - Olá! – ela disse alto e sorriu, para tentar minimizar a situação desconfortável.

       O rapaz continuava serio, olhando para ela com aqueles grandes olhos azuis em silêncio. Ele desviou o olhar e saiu do campo de visão de Maggie. “Que bonito, você assustou o rapaz!” ela disse para si mesma. Com um menear de cabeça, ela saiu da janela e voltou ao seu sacrifício de se maquiar, sem conseguir ignorar que o rapaz até que era bonitinho.

       - Ah, que lindo. Não faz nem uma hora que você está solteira e já está tarando o vizinho. Safadinha. – ela murmurou para si mesma.

       Ela terminou de se aprontar para o trabalho e saiu de casa ás seis e vinte da noite, refreando o impulso de olhar pela janela mais uma ultima vez."

 

3 comentários:

  1. Gente, amei a forma como você escreve! Ainda não terminei, mas vou ler o blog todo hoje haha

    Pedras na Janela

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  2. Lindoooo seu blog, amei!!! Curti a page!

    http://dicasetals.blogspot.com/

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  3. Gostei, escreveu bem!!! Passa no meu blog pra conhecer tb, se gostar e seguir, sigo de volta!!!
    www.makeolatras.blogspot.com.br
    Bjsss =]

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