quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

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"Sebastian" parte II, Cap III

Parte II
Capitulo III
"Breve tempo de paz"
 
       Nem é preciso dizer que começava uma nova fase na vida de Sebastian. Tudo parecia ter mais vida, as cores eram mais vibrantes, os sons eram tão melodiosos e o ar mais limpo. Tudo era diferente, agora que era livre.

       As boas ações de Eva não terminaram por ai. Aquele anjo havia arranjado emprego para os três amigos em seu vinhedo na parte administrativa, o que possibilitou que pudessem alugar um apartamento modesto por lá mesmo no centro, nada muito grande, apenas o suficiente para terem a consciência limpa sabendo que tinham um trabalho decente e um teto sobre suas cabeças, e isso não tinha preço.

       Sebastian trabalhava muito para não desmerecer a fé que Eva colocava nele. Em pouco tempo ele deixara as drogas e esforçava-se para aprender tudo o que lhe era ensinado. Eva o modificou de tal maneira que nem Luigi e Pietro o teriam reconhecido se não tivessem visto e participado da mudança. Eva o refinou, o ensinou boa maneiras, á falar direito e como se portar. Ninguém que o visse diria que um dia ele fora garoto de rua. Ele era, como ela gostava de dizer, seu diamante lapidado.

       Quando Sebastian começou a trabalhar no vinhedo, precisou de documentos, coisa que ele não tinha e Eva fez questão de providenciar. Digamos que essa era a chance de Sebastian enterrar de uma vez por todas seu passado, deixando o nome de Chandler na escuridão para sempre. Para todos os efeitos, era um cidadão italiano com identidade, seguro saúde e tudo mais. Porém ainda não tinha um sobrenome. Mas não foi difícil pensar em um. Chamava-se Sebastian Tomazi agora. Luigi e Pietro não eram seus irmãos no coração somente, mas no papel também.

       Eva e Sebastian passavam muito tempo juntos, afinal, eram dois solitários que de certa forma se completavam. Não demorou muito o inevitável aconteceu: Eva apaixonou-se por Sebastian. Na verdade Eva havia se apaixonado por ele anos antes, quando abriu os olhos numa praia ao por do sol e a proximidade só fez esse sentimento aumentar.

       Porém Sebastian não compartilhava desse sentimento. Eva sabia que ele só a via como uma mulher incrível, uma grande amiga, mas só. Embora o visse sorrir, embora visse toda a mudança para melhor que aconteceu nele, Eva podia sentir só de olhar para ele que seu coração estava dilacerado e que nunca mais iria se curar. Ainda havia muito ódio dentro dele o envenenando, mas nem por isso ela desistiu.

       Aos poucos o relacionamento dos dois foi evoluindo, muito devagar, como namoro antigo. Ele não iria tomar nenhuma iniciativa, isso ela percebeu logo de cara, por isso ela meio que foi preparando o terreno. Começaram com olhares furtivos e sorrisos escondidos no vinhedo; mãos dadas quando estavam juntos em momentos de descontração; beijos de boa noite quando ele a deixava em casa e coisas assim. Nada muito afogueado, aliás, para Eva era devagar quase parando. Ele nunca tentava nada com ela, pelo contrario, ele a repelia ás vezes, se a coisa começava a esquentar.

       Um dia, quando Eva o deixou em casa depois do trabalho, ela ficou ainda um bom tempo no apartamento dele, jantara e jogara conversa fora com Sebastian e os gêmeos. Quando ela olhou para o relógio e viu o quão tarde era, Sebastian a levou até porta.

       - Boa noite. – Eva disse ajeitando a bolsa no ombro já do lado de fora.

       - Boa noite. – Sebastian disse com um sorriso – Amanhã Luigi vai preparar o jantar, vai ser melhor do que a gororoba do Pietro, eu prometo.

       - Que isso, não estava tão ruim. – ela disse condescendente, recebendo em troca um olhar incrédulo de Sebastian – Tá bom, estava, mas não diga isso á ele. – ela sorriu. – Já vou.

        Ela se aproximou dele, na intenção de beijá-lo, porem, ele se esquivou virando o rosto. Ela parou e ficou olhando para ele que desviava o olhar.

       - Nossa. – ela ponderou se afastando.

       - Eu preciso de um tempo. Só isso. – ele disse.

       - Eu sei. – ela sorriu - Eu espero por você o tempo que for.

        Ela beijou seu rosto e foi embora, decida á não desistir tão fácil dele.

 

        Estavam os dois no sofá certa noite, vendo um filme na TV. Estava frio e os dois estavam aconchegados embaixo de um edredom, comendo pipoca como crianças. De vez em quando, uma ou outra pipoca voava pela sala, seguida de vários risos. Foi mais ou menos na metade do filme que Sebastian percebeu que Eva havia parado de prestar atenção á TV e o estava encarando.

       - O que foi? - Disse ele sem tirar os olhos do filme, que estava achando hilário.

       - Nada. – disse ela com voz macia.

       Sebastian olhou para ela e ela continuava encarando. Decidiu que ia continuar a assistir o filme, Eva tinha essa mania de ficar encarando mesmo. Até que sentiu que ela se aconchegou mais á ele, encostando os lábios no seu pescoço e sem aviso, Eva o beijou. Sebastian se mexeu um pouco e ela se afastou um segundo, ela sabia que ele não gostava dessas coisas, mas ela voltou a beijar o pescoço dele com profundidade. Dessa vez parecendo realmente incomodado, se contorceu e sua respiração ficou descompassada.

       - Eva, o que esta fazendo? – disse com a voz trêmula.

       - Não consegue adivinhar? – respondeu com os lábios colados á pele quente dele.

       Então Eva intensificou as carícias, explorando o peito dele com a mão embaixo do edredom. Sebastian se mexeu mais, tentando afastá-la, mas Eva não se daria por vencida tão facilmente.

       - Eva. . . – tentou dizer, mas Eva o calou com um beijo nos lábios, profundo, como nunca haviam se beijado antes.

       Eva o queria demais e ignorando que ele respirava descompassadamente e se contorcia ao seu toque, visivelmente incomodado, ela se ajeitava em cima dele para ter total controle sobre ele.

       Ela continuava a doce tortura, revezando entre os lábios e o pescoço dele. Sem aviso, ela desabotoara devagar a camisa de Sebastian, beijando seu peito a cada botão desabotoado. Ele se contorcia ao toque suave dela, gemendo baixinho, até que ela chegou ao botão da calça dele.

       - Não. . .  – sua voz saiu suplicante dessa vez fazendo Eva parar e olhar em seus olhos – Eva, eu não consigo, eu não. . .

       - Sebastian, eu não vou te machucar, jamais faria isso. Mas eu quero você, tanto. – ela o beijou outra vez e os dois se olharam. – Confia em mim.

       Dizendo isso, Eva montou sobre Sebastian que tremia. Tateando, Eva encontrou o fecho da calça de Sebastian e nesse momento ele gemeu. Com demasiada delicadeza, ela o tocava sentindo-o estremecer. Sebastian fechava os olhos e gemia, mas não lutava mais, apenas se deixava ser tocado e beijado. E quando Eva percebeu que ele estava totalmente entregue e sem defesas, uniram-se, e ele abafou um gemido.

       - Está tudo bem, relaxa.

       Por um momento só ficaram parados, ela meio que deixando que ele se acalmasse, até que ela começou a se mexer sobre ele. Eram movimentos lentos, mas precisos, Eva se esforçava para dar o máximo de prazer á ele que nunca sentira nada igual, e então ela intensificou os movimentos á medida que ele parecia mais a vontade. Pela primeira vez, Sebastian sentiu prazer no ato sexual, levando em conta até então só havia praticado á força ou sendo pago, pelos tipos mais nojentos de pessoas. Digamos que foi como perder a virgindade, mas do jeito certo.

        Foi com jeitinho e de pouco em pouco que Eva conseguiu ir quebrando a redoma que Sebastian havia construído em torno de si. Foi necessário muito, mas muito carinho para que Sebastian pudesse abrir seu coração para esse novo sentimento. Não era amor como o dela, era algo diferente. Era respeito, admiração, um grande carinho, além do fato de Eva fazê-lo sentir-se bem apenas com sua presença. Começaram então a namorar no verão de mil novecentos e noventa e quatro.

        Um dia, estavam os dois na cama, depois de terem feito amor. Estavam os dois abraçados, vendo a chuva cair lá fora através do vidro da janela do quarto de Eva, num momento de felicidade que guardariam na memória para o resto da vida, quando do nada Eva disse:

       - Quer casar comigo? – disse naturalmente, porém assustando ele.

       - Que? Casar? – disse atordoado. – Ouvi bem?

       - Sim.

       - Tipo “casar”, de papel passado e tudo? – ainda estava confuso.

       - Mais ou menos isso. – sorriu.

       - Fala sério? – disse olhando bem nos olhos dela, com uma expressão seríssima. – Não é brincadeira? Pois, se é, não tem a menor graça.

       - Nunca falei tão sério em toda a minha vida. – disse afastando-se um pouco e sentando-se na cama.

       Eva olhava agora para Sebastian que também se sentara na cama e tinha agora um olhar triste. Notou que havia algo errado.

       - O que foi?

       - Faz um tempo, eu estava me afogando no meu próprio desespero, - sussurrou – perdido e sem nada. Então você apareceu e minha vida mudou e pela primeira vez eu sinto que pertenço a algum lugar. Tudo isso parece um sonho.

       - Más. . . – Eva sabia que havia um “más”.

       - Mas eu tenho medo que seja exatamente isso, um sonho. Medo de que uma hora eu vou acordar e ver que você não está aqui, que nada disso é real.

       - Eu sou real. – aproximou-se e o beijou profundamente. – Eu estou aqui e não consigo imaginar minha vida sem que você esteja nela.

       - Me aceita como eu sou? Me ama tanto assim? – disse com os olhos marejados.

       - Sim, amo. Amo tanto que não me importo com o fato de que você não me ama. – disse fazendo-o sentir-se mal por ser verdade.

       - Eva. . . – ele queria dizer alguma coisa, mas as palavras morreram em sua garganta.

       - Tudo bem, o meu amor é suficiente para nós dois. Mas não quero que se sinta obrigado a isso só por que acha que tem uma divida comigo. Você não tem. Isso é algo que tem que vir do seu coração também.

       Sebastian ouvia tudo calado absorvendo essas palavras.

       - Você tem certeza que tem paciência para me aguentar? – disse com um sorriso por entre as lagrimas. – já vou avisando que sou chato, sou o tipo de marido antigo, vai ter que cozinhar e passar pra mim. – disse brincando, fazendo-a rir. – Ah, sim, mulher minha tem que usar véu. Onde já se viu uma mulher de respeito se mostrando por ai assim?

       - Cala a boca. – disse beijando-o.

 

        Um tempo depois se casaram “de papel passado e tudo”, na primavera de mil novecentos e noventa e cinco. Foi um casamento simples, com pouquíssimas pessoas e Luigi e Pietro como padrinhos. Foi o dia mais feliz da vida de Sebastian e ele guardaria todas as imagens desse dia na memória. Todas menos uma, que ele não viu, na verdade ninguém viu quando Luigi deixou a festa, trancou-se em seu quarto e começou a chorar desesperadamente. Nem que ele chorara a noite toda. E quando o viram no dia seguinte e Sebastian lhe perguntou o porquê dos olhos vermelhos ele mentiu, dizendo havia bebido demais e que estava de ressaca. Ninguém saberia realmente o que aconteceu e se dependesse de Luigi, ninguém saberia. Principalmente Sebastian.

        A terra muda, os ventos mudam e como eles, Sebastian também mudou. Todo o amor que Eva lhe dava abrandou seu coração, fazendo-o esquecer-se de todo o ódio que sentia. Ele entrara numa faze calma e começou então á experimentar algo que esse ódio não lhe permitia antes, a paz.

        E foi nessa nova fase de calma que Eva engravidou, dando á Sebastian a maior alegria de sua vida. No outono de mil novecentos e noventa e seis, nasceu um menino a quem Sebastian chamou de Angelo, pois quem quer que colocasse os olhos nele diria que ele trazia a beleza dos anjos. Era inegavelmente um Desmont, com os olhos verdes do pai. E quando Angelo nasceu, Sebastian rezou para que ele não tivesse o mesmo destino trágico a que todos os homens dessa família estavam fadados.

       Sebastian amadurecera, tornara-se um homem de bem, trabalhador. Amava Eva, Angelo e seus irmãos mais que a si mesmo. Um bem estar que nunca imaginou foi gradativamente fazendo-o se esquecer de Robert Murphy, Aaron River e todo o sofrimento do passado. A esperança era como um pássaro que ia montado seu ninho no coração dele, depois de voltar de um longo período longe. E enfim, depois de tudo o que havia acontecido, descobriu oque a palavra felicidade significava.

 

       Seria oportuno se essa história acabasse aqui. Seria um belo final feliz para o nosso herói que já sofrera tanto, afinal ele o merece. Todos ficariam contentes, pois tudo terminaria bem. Mas esse não era o final, não ainda. Seria ótimo se ele alcançasse a felicidade assim tão fácil, seria perfeito. O destino como um espectador sádico, achava que isso não era o suficiente, e lhe preparou mais uma.

       Depois de dois anos que Angelo havia nascido, mais precisamente na sua festa de aniversário de dois anos, Eva desmaiara. Ela já vinha aparentando saúde fraca fazia um tempo e depois disso decidiu procurar um medico. Depois de vários exames feitos, foi constatado que Eva tinha Leucemia. Fora um grande choque para Sebastian, talvez maior para ele do que para a própria Eva.

       Como já disse, a felicidade durou pouco para o nosso amigo, que via seu anjo salvador sofrer com a doença. Via a chama da vida dela apagando um pouco a cada dia, porém mantinha aquele fiozinho de esperança. Não iria desistir de curá-la. Tomou a frente do vinhedo, cuidando muito bem dos negócios da família para que também pudesse procurar por tratamentos mais modernos, e assim a historia seguiu.
 

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