domingo, 18 de novembro de 2012

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"Ponto Final " , por Natalia de Oliveira

"Ponto Final"
 
    

      Sidney olhava incessantemente para o relógio em seu pulso, eram onze e cinquenta da noite. - Que droga! – esbravejou, tinha perdido o ultimo ônibus. Sidney estava sozinho no ponto de ônibus em frente a lanchonete que ficava perto da casa da sua namorada. Tinha perdido a noção das horas, entretido com os amassos e quando reparou na hora, saiu correndo colocando a camisa e abotoando as calças. É, era isso que dava não ter carro e namorar uma garota que morava longe pra cacete. Poderia dormir na casa dela? Poderia, mas tinha que acordar cedo, bem cedo para ir para o serviço e como não estava prevenido, teria que continuar a linha de raciocínio mais tarde e por hora, estava ferrado. A escuridão daquele lugar era terrível e o silencio era sepulcral. A lanchonete já estava fechada e não passava ninguém na rua. Olhou para a rua, pensou ter ouvido o som de motor, mas tudo o que veio em sua direção foi uma moto que passou muito rápido. Praguejou outra vez, não podia voltar para casa á pé, sua casa era muito longe, tanto que sua casa ficava perto do ponto final, depois que o ônibus desovava o pessoal, ele seguia para a garagem, e isso no fim das contas era um saco. Olhou em seu relógio outra vez, era meia noite. Perguntou-se se deveria esperar mais, mas tinha que encarar a realidade dos fatos, o último ônibus já havia passado e não haveria outro até ás quatro da manhã. Enfiou as mãos nos bolsos da jaqueta e preparava-se para começar a longa jornada de volta para casa á pé, quando ouviu um som de motor outra vez, mas dessa vez era mais alto, ou seja, de um veiculo bem maior. Virou-se para olhar e viu, dobrando a esquina, um ônibus vinha em sua direção. Era velho, enferrujado, sabia que fazia parte da frota da cidade, pois tinha o logotipo da prefeitura na frente, mas algo não estava certo, não era azul e branco, era laranja, não tinha a porta para deficientes e não via esse tipo de ônibus desde que era criança. Ele ficou parado até que o ônibus se aproximasse, imaginava que ele iria passar direto, mas ele parou no ponto e abriu a porta com aquele estrondo característico. Bem, quem não tem cão. . . Ele subiu os dois degraus do veiculo e olhou para dentro. O motorista era um homem velho, com uniforme azul escuro, mas muito desbotado e ostentava um par de olheiras profundas e escuras, coitado, devia estar caindo de sono, querendo ir para casa. Se aproximou do cobrador que não estava em melhores condições: era uma rapaz ruivo e sardento, também com o uniforme desbotado e as olheiras profundas como se tivesse levado um soco em cada olho. Com surpresa, ele reparou que o ônibus não contava com o sistema de cartão magnético, que era o que tinha em mãos. - Ah, não, ferrou. – ele exclamou. Olhou para o rapaz ruivo. – Cara, eu só tenho o cartão. O cobrador continuou calado. Simplesmente olhou para Sidney e girou a catraca manualmente. - Valeu. – Sidney disse antes de passar pela catraca. Sidney olhou para os dois corredores de bancos no ônibus e seus ocupantes estavam tão acabados quanto os dois funcionários. Haviam não mais do que dez pessoas: um casal de velhos negros; um trio de meninas adolescentes com o mesmo uniforme de escola católica; uma mulher de aparentemente trinta e poucos com seu filho pequeno ao lado, uma garota sozinha e um homem no fundo com um ar muito estranho. Com Sidney, eram dez passageiros. Ele seguiu através do corredor e sentou no banco atrás do banco da moça sozinha. Sentiu um cheiro estranho, um cheiro de gasolina, muito forte, o que fez seu estomago dar voltas. - Que cheiro horroroso. – Sidney disse alto e todas as pessoas olharam para ele, todas. Que constrangimento! Sidney calou-se e se encolheu em seu banco e ficou olhando pela janela, para a cidade lá fora, com as luzes artificiais dos postes deixando tudo laranja. O cheiro de gasolina continuava muito forte, deixando-o quase tonto. Imaginou se não haveria um vazamento ou algo assim, mas não faria nenhuma ponderação. Demorava mais ou menos meia hora até chegar ao seu ponto, e notara com estranheza que ninguém descera nos pontos anteriores, mas como se seu ponto era o último? A não ser que todos descessem junto com ela, mas isso também queria dizer que moravam naquele bairro, difícil, pois nunca havia visto nenhum deles por ali. A moça do banco da frente, de repente virou-se e olhou para Sidney com um olhar curioso. - Quem é você? – ela disse com voz etérea. - Como? - Você não deveria estar aqui. – e continuou olhando para ele. Nem é preciso dizer que Sidney achou aquilo muito estranho. Como assim, não deveria estar ali? O tom de voz dela era algo muito esquisito, como se a voz dele estivesse vindo de algum lugar distante. Sentiu então um cheiro de cigarro. Olhou para trás e viu, no fundo do ônibus, aquele homem com o jeito esquisito, estava fumando um cigarro. - Moço, pode apagar o cigarro? – Sidney disse chamando a atenção do homem que nem lhe deu atenção e continuou a tragar o cigarro. - Moço! – ele insistiu. Será que só ele estava sentindo o cheiro de gasolina? Isso era perigoso. Visto que o homem não parecia lhe dar a mínima atenção, ele emendou: - Não vale a pena. Sidney ficou ressabiado, mas com sua visão periférica viu que seu ponto se aproximava. Quando foi chegando seu ponto, Sidney se levantou e deu sinal com a cordinha e um apito estridente soou cortando o silencio e mais uma vez, todos olharam para ele. O ônibus parou e a porta de trás se abriu para que ele saísse e ele desceu os dois degraus com pressa. A porta se fechou atrás dele com um estrondo. O ônibus continuou o caminho e Sidney ficou olhando, achando esse episodio bastante peculiar, ainda mais por que ninguém mais saiu do ônibus. Mais peculiar ainda se tornou quando, para a sua surpresa, o ônibus explodiu, se transformando numa enorme bola de fogo. Sidney caiu sentado com o susto. - Meu Deus, mas que. . . mas que porra é essa? A bola de fogo continuava em movimento e seguiu por mais alguns metros antes de desaparecer no ar. Sim, desaparecer, esvanecer, como fumaça. Ele se levantou espantado com o que vira, aquela coisa sobrenatural. Saiu correndo em direção á sua casa como nunca correra antes em sua vida. Entrou em casa ofegante, trombando em sua mãe. Rapidamente, Sidney contou o acontecido. - Você pegou um ônibus fantasma. – sua mãe disse espantada. – Quando você era pequeno, esse ponto era o penúltimo, o ponto final era na rua da frente, e naquela época, houve um acidente terrível, o ônibus explodiu, parece que foi um vazamento no tanque de combustível e alguém ascendeu um cigarro. Todos que estavam dentro do ônibus morreram, um acontecimento muito triste. Dizem que ainda o veem passando, depois que o ultimo ônibus passa. Sidney nunca soube se tudo isso acontecera mesmo ou se fora fruto de sua mente.

Um comentário:

  1. Parabéns pelo texto, Natália. O texto é bastante curioso e prende a atenção. O fator "mistério" e "surpresa" são muito importantes para cativar o leitor. O seu Blog está muito bem feito e bem ilustrado. Também sou escritora, tenho um blog (Páginas de Escritor), lancei meu primeiro livro chamado "Realidade Azul" que é um livro bem diferente do convencional e agora estou escrevendo um segundo livro onde terá muito suspense e mistério.

    Cordialmente
    Luciana

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